6º Caderno

Partiu
Sem dizer adeus, nem deixar despedida
Mas sorriu
Cantando e compondo a própria vida
E deixou
O seu nome no samba com muita humildade
E assim
Vai embora o malandro e fica a saudade

Cantar...sempre foi sua sina
Verde e branco no coração e na poesia
Quem tanto se inspirou e cantou pros poetas da lua
Foi fazer parceria no céu com Seu Hélio Bagunça
Perco um amigo
Mas ganho uma linda história
Reluzente como um RUBI em minha memória

Lalalaia lairalarailalaia
laralaialalaialalaialalai

Perdoa se puder perdoar
Volta se um dia quiser voltar
Ou me esqueça se você conseguir
Mas acabe de vez com o tormento
Do avesso deste sentimento
Que trago inerte no peito num pranto sem fim
Diga que já não me ama, diga que já não me quer
Só não julgue o meu amor como coisa qualquer

Se eu errei foi tentando acertar
Só joguei na intenção de ganhar
Na grande escola da vida
Onde eu sempre frequentei
Só que na aula de amar nesse dia faltei

Não dá pra viver só de amor
Não basta dizer eu te amo
Se o coração não conhece a palavra perdão
Chega de se enganar, pra que sofrer tanto assim
Se eu nasci pra você e você para mim

Fonte da juventude e a magnitude do pensar do poeta
O bom sambista não ilude, ele é atitude
Sambar deixa a alma em festa
Reunião de amigos e dos protegidos
Da mãe natureza eu quero achar
Numa roda assim eu fico pra ver a luz do luar

Sempre nesse encontro
Alegria é razão de viver
Quando chega ao ponto
Nostalgia explode em meu ser
E a reação do universo
Conspira ao nosso favor
E a influência dos astros
Nos abençoa com louvor

Reunião dos parceiros e dos companheiros assim
Eu quero achar
E fico pra ver madrugada chegar
Reencontrar bons malandros que sempre fizeram história
Conquistaram o espaço no samba sem fama e sem glória

Meu bem, ta difícil de aguentar
Já não posso suportar o chicote da vida sofrida
Não para de castigar, é só conta pra pagar
Vítimas, da desigualdade social
De uma renda desigual
Lutando muito pra ganhar o pão
Poucos com muito, incentivando a corrupção
Sem se importar com o desespero
De muitos que seguem vivendo na escravidão

Não há muito o que fazer, fora eu e você
Tem mais três pra comer
Estopim, em nosso lar começam brigas, intrigas
Eu vou sair me distrair no samba
Um bom terreiro, celeiro de bambas
Algum lugar que chove poesia
Melodia, que faz sonhar
Melhor remédio contra o dissabor
Que lava a alma do compositor
Abro um sorriso e é o coração quem diz
Quando eu voltar eu te faço feliz

Não bastou escravizar e nem subtrair
Toda cultura dos meus ancestrais
Não dá pra nos calar
Não dá pra suprimir
A nossa força a nossa fé

O quilombo não morre jamais
É a busca da paz, esperança
Vive dentro de nós
Ganga Zumba, Zumbi
Rei Zumbi

Pra libertar...
De todos os grilhões
Pra libertar...
Nossas religiões
Pra libertar...
Do preconceito e da desigualdade

E mostrar o valor que o povo negro tem
Sem pensar se o branco vai dizer amém

Telefonei pra te dizer
Esta difícil de viver, sem tua companhia
Escute amor, se você voltar, eu posso até jurar
Que deixo a boemia

Mandei pintar o bangalô
Nova mobília e um moderno, televisor
Pra ver melhor toda intriga
Da tua novela preferida

Amor, eu estou sendo verdadeiro
Dei vida nova ao teu canteiro
Venha pra ver as tuas flores, estão belas

Nossa, fachada, tão bonita, caprichei
A nossa cor o amarelo conservei
Só falta agora o teu sorriso, na janela

Volta amor, volta pro nosso bangalô
Vem ver do jeito que ficou
É o mais bonito da favela

Dei-te amor e dei carinho
Infelizmente procedestes assim
Se era posse que tanto almejava
Porque iludistes a quem tanto te amava
Faltou sinceridade no seu modo agir
Sequer um dia me amaste então podes partir

Tu não terás a paz por não merecer
Te julgo incapaz, plantaste o sofrer
E ainda queres bem mais, bem mais o que?
Se não percebeu o quanto que eu...

Dei- te amor e dei carinho...

Morena entrou na roda
Sambou até se acabar
Gingou que gingou bonito
Com jeito desinibido
Mexendo pra lá e pra cá

Na batida do tambor
Também me contagiei
Morena da cor do pecado
Tinha um “Q” no seu rebolado
Confesso me apaixonei

Na Bahia é assim
Dia e noite sem parar
Vem no toque do afoxé
E deixa a batida te levar

Pedindo licença pro seu Orixá
Batendo na palma pra cadenciar
Fazendo o povo inteiro cantar

Não era pra ser samba e virou samba
Surpresa, geral...
Quando eu deparei com tanta emoção
Percebi que havia algo fora do normal

Não era sonho não....realidade
Há alma expressando a verdade

Quando o horizonte eu vi chegar
De mãos dadas com a lua lá no céu
Era um por do sol de se encantar, lindo de admirar
Em meu peito a respiração quase parou
Estava embriagado com tal cena
Quando o astro rei me despertou
Com um brilho tão intenso de se apaixonar
Ardente a me queimar
E ao mesmo tempo sedutor em cativou

Ai meu deus que sensação
Que me arrepia de emoção e fez o coração
Virar de vez....poeta e compositor
Atônito até para explicar com a ode a saltar do olhar
Tudo isso mostrou que existe amor no ar

Meu preto não quer que eu vá pro samba
Diz que eu me jogo, me quebro, me elevo apareço de mais
Implica com tudo, meu cheiro, cabelo, batom e vestido
Não me censure, se não vou pro samba e não volto mais

Lá no meu barraco te dou mordomia
Café com torrada, camisa passada, gemada no ponto
Sem cobrar satisfação
E ainda de quebra te dou o meu dengo, meu cheiro gostoso
De cravo e canela sem hora marcada
Por isso do samba eu não abro mão
Por isso do samba eu não abro mão

Prometo carinho e fidelidade
Se tu agir com compreensão
Ou me aceita do meu jeito sem botar imposição
Ou tu me solta pro que do meu samba eu não abro mão
Ou me aceita do meu jeito sem botar imposição
Ou tu me solta porque do meu samba eu não abro mão

O Sol de uma linda manhã reacendeu
A chama desse nosso amor
Que estava a apagar sem brilho e sem luz
A gente confuso sem saber o que fazer
Olhei para o céu contemplei e pedi
Pra que o sol de uma linda manhã venha nos socorrer

Quem dera poder ter você
Desde o amanhecer até o Sol se pôr
Quimera deixar de existir
A gente curtir, fluir nosso amor
E quando a noite chegar
Juntos damos boas vindas
Agradecendo a noite e a lua tão linda
E quando a noite chegar
Juntos damos boas vindas
Agradecendo a noite
E a Lua é bem vinda

Laiá, laraiá, laraiá, lá lá laia
Laiá, laia, laia, laia

Convidaram o Cocão para uma festa
Topou na hora falou que já é
Vestiu uma beca pisante invocado
Sua nega do lado pro que der e vier
É a mais linda doce verdadeira
Mulher guerreira de grande valor
Mas de pé de breque hoje em dia é mato
Vai vendo a parada que o Mané aprontou

Chegou chapado, zuado, trincado, daquele jeito
Se sentindo um galã de novela
Mas ai faltou com respeito
Falou demais xingou todo mundo
E derrubou o bolo no chão
E como não se bastasse
Ainda foi pra cima da mulher do Cocão

Foi ai que envergou o bambu no lombo
A mulherada gritava coitado
E o Cocão bate mais um pouco

O vento que sopra em meus ouvidos
Palavras que amenizam minha dor
Por um momento o sofrimento
Já não faz morada no meu coração
Pretinha minha vida é assim
Um eterno sofrer, uma agonia sem fim
Tentando esquecer
Ouvi na fala do vento
Que o meu lamento vai chegar ao fim
Agora finda a tempestade
Tenho a certeza que você vai voltar
Pra que o jardim volte a florir
E novamente te amar

Vamos viver a liberdade
E deixar a saudade para trás

Se hoje sou feliz
É porque bem fiz, por merecer
Se estou sempre cantando
Ficar chorando não vale a pena viver

A vida tem os seus altos e baixos
Segredo é como
Enfrentar os seus percalços

Problemas sempre aparecerão
Basta saber conviver ou não

Deixar prevalecer o lado bom
Também valorizar as coisas simples

Sorrir, cantar
Jamais ficar triste
Agradecer aos céus
Pois, a felicidade conseguiste

No submundo da ilusão
Eu mergulhei a minha vida
Me deparei na contramão
Mas encontrei uma saída

Já fiz noite virar dia
Até chão virar poeira
Bicho solto na orgia
Eu não fui de brincadeira
Felizmente uma luz acendeu em meu caminho
Quando implorei socorro
Percebi não estar sozinho
O que passou, passou ficou pra trás
Lembranças do passado não importam mais
Deus me deu a vida vou agradecer
Renascendo em cada amanhecer

Me despertou do meu cabisbaixo
Aquele velhinho, por mim ao passar
Arrancou-me da cisma ,olha lá para cima

Olha lá para o céu....Olha lá
A liberdade a se agitar
Olha lá para o céu....Olha lá
Uma pipa no ar, olha lá

Parece música ouvir
Parece mesmo dançar
Dançar com a cantiga do vento
Alegre é seus movimentos
E o seu maestro um menino
Me fez viajar no tempo
Me fez esquecer da saudade
Apenas por um momento
Saudade que assola meu peito
Que me faz penar...

E o velho assim me dizendo
Que o tempo passa veloz
A vida é arte divina
Destino quem traça somos nós
Arrastando seu passo foi seguindo
No rosto um semblante sofrido
Fitando o céu e sorrindo a resmungar

Acompanhado por São Jorge e pela lua
Fui pra quadra da São Lucas numa vaga quinta feira
E ao ouvir aqueles bambas, foi que eu tive a certeza
Que a madeira, o couro e o pinho ainda estão vivos em versos e letras
Que a madeira, o couro e o pinho ainda estão vivos em versos e letras

Quando eu ouvi pela primeira vez eu não acreditei que havia encontrado
Um reduto de samba perfeito que faz do respeito o seu aliado
Entre um gole e a caneta, tirei da gaveta meu samba esquecido
E ele foi valorizado por todos cantado com muito carinho
Terreiro que acolhe bambas
Reduto de compositor
E dos cinco cantos paulistas
Um samba do vento pra leste soprou
Poesia que era adormecida
Transformaram-se em versos de amores
Salve o Terreiro de Compositores
Salve o Terreiro de Compositores