4º Caderno

Sertanejo carrega um terço de prata
Pra ver se afasta do peito a dor
Quer ver céu ardente se anuviar
E toda essa terra frutificar
Não há boiadeiro que sele um destino
Com tantas volta que o mundo dá
E fecha vereda num só caminho
É fardo pesado de carregar

Valei-me Deus...
Vem amparar...
Vem acudir...
Meu Ceará...
Porque, quando sofre o meu rebanho
A tristeza é de um tamanho
Que eu nem posso mensurar
E ai, quando o gado adoece
O aboio é como prece
Feito só pra lamentar

Roupa suja se lava em casa Idalina (Ooo Idalina)
Vê se para com ti-ti-ti na esquina
Você me aborrece, porque desatina
Roupa suja se lava em casa Idalina

É ali... aonde viro tranqueira
Na boca... de uma dona futriqueira
Falando do jeito que bem quer
Ô! Mulher, tu vive falando asneiras
Dizendo que só não da linha do barraco
Porque faz gato e sapato
Quando chego embriagado lá no alto da colina
Ô! Idalina...

É ali que você queima o feijão
Vai gritando palavrão, toda favela escuta
Mas à noite me lambuza com teus beijos
Me embriaga de desejos
De mocréia vira musa
Eu já disse roupa suja
Se lava em casa Idalina

Ô! Idalina...
Ô! Idalina...

Dona Maria pesquisa
Qual é o preço da banana
Trabalhou semana inteira
Pra feira no fim de semana
Peixe, alcachofra, pêra
Camarão, cereja vai pechinchar
Mas é a banana pra fazer seu doce e vender
Segunda feira é pode comprar

Não é de moleza
Antes que galo cante já esta de pé
O fogão de lenha, panela de barro
O tacho é de ferro, de pau a colher
Lampião a gás
Iluminando o caminho que faz
Pra buscar a água do poço
Reclamar jamais cozinhar lamentando
Não existe tempero que pegue o gosto

Não diz o segredo
Se banana nanica, da terra ou maçã
Se da prata, ouro, pode insistir
A nora, a sogra, a prima ou irmã
É uma receita nobre
E muito antiga que vem de família
Só passará mais tarde
Esta herança da sorte para sua filha

Continue a fumar
Pegue uma hipertensão
Cada tragada
É um prego em seu caixão

Vovó dizia
Que cigarro é uma chupeta
É luxaria
Criada pelo capeta
De um lado uma brasa
Trepidante a fumegar
Do outro um trouxa
Querendo se suicidar
Chupa, chupa com força
E com volúpia a fumaça
No seu caixão
Eu seguro em uma alça...

Impertinente
Posso ser, mas não agüento
Ver tanta gente
Que ainda não tomou tento
Que o sangue engrossa
A veia pode entupir
E um "AVC"
Daí pode até surgir
Fumante seu coração
Pode até ser de Jesus
Mas o pulmão
Só pertence a Souza Cruz...

Toda vez...
Que meu coração se apaixona
Seja lá...
Por qualquer tipo de dona

Tanto faz sendo ela honesta ou não
Não faz mal se “pintar” desilusão
Só assim meu “bobo” se fortalece
E a um novo amor ele sempre agradece...

Eu me perco pelos becos da paixão
Do caminho não encontro a direção
Sem um rumo a seguir, ando desnorteado
Mas tenho meu “tolo” sempre apaixonado...

Com muita sorte
Eu vendi o meu barraco
Pois vejam só a minha situação
A Leonor tá na minha captura
Fazendo um monte de juras
Juras que não são de amor
Anda dizendo que o barraco na favela
Foi presente da mãe dela
Quando a gente se casou

A Leonor está contrariada
Diz que vai me dar pancada
Com o braço do pilão
Agora veja que tamanha confusão
A nega quer de volta o barracão

Depois que eu vendi o barraco
Pensei em ficar sossegado
Aí foi que o tormento começou
Passei a ser perseguido
Leonor sem noção do perigo
Quebrou meu cavaco
E o cachorro envenenou

Mas o barraco eu já vendi pro Claudionor
Que já avisou!
Só vende pelo dobro que comprou
(Leonor se ferrou)

Acabou
O respeito ao samba
Terminou
A nossa gente bamba
Não pode se acabar
Sempre em nosso peito existirá

A nossa bandeira é manto forte
É resistência
De uma cadencia que não pode terminar
És um pecado alguém querer te esnobar
Pois o samba com certeza
É vaso ruim de quebrar
És a voz que alumia uma nação
E o que faz contagiar um coração
Embora a sua intenção é nos ferir

Vai Nega ingrata
Se perde na madrugada
Esquece do bem que eu te fiz
Ah... Vai se perder na boêmia
Cai nos braços da orgia
Eu só peço a Deus pra que seja feliz

Lembro do dia em que te conheci
Me abriram os olhos e eu não quis enxergar
Me disseram compadre
Essa Nega é danada tu vai se estrepar
A Nega não perde uma roda de samba
Não vá no embalo e não pague pra ver
Do Vai-Vai ao Camisa
Só deixa o pagode no amanhecer...

Hoje eu pago por não escutar
Chego do trabalho cadê o feijão
Barraco revirado de pernas pro ar e você no sambão
Mal começa a semana ela vai pro Peruche
São Lucas, Leandro ou sambar no Nenê
Deu muito vacilo
Por causa do samba e pôs tudo a perder... (Refrão)

Sou devoto de Aparecida
A minha Nossa Senhora
Peço a ti proteção
Acalanto na minha oração
Um coração varonil
Padroeira do Nosso Brasil
Rogai por nós um segundo
Tirai as maldades do mundo
Oh virgem do céu morena
Singela e serena

Trago uma rosa pra quem é a mãe das mães
Com muito respeito, o faço em forma de canção
O meu samba é abençoado
Pela protetora dos necessitados
Do lado esquerdo do peito
Guardo o seu nome santo
Intercessora dessa grande massa
De cor, igual à cor, de todas as raças
Oh rainha cubra esse país com seu sagrado manto...

No Final...

Aparecida na beira de um rio foi acolhida
Abençoando os pescadores
Trazendo esperança à nossa vida

Aparecida, Nossa Senhora...

No domingo de manhã
Saí com minha sogra no rolê
Levei a “véia” na feira do rolo
A fim de trocá-la por uma TV

Encostei num senhor de bigode
Vendendo a camisa do seu bisavô
Quando eu disse que dava a “véia” na troca
Aí foi que ele gritou
A “véia” é banguela esta toda enrugada
Com a cara inchada de tanto beber
A camisa do meu bisavô meu amigo
Eu não troco com você...

Um tiozinho com um rádio de pilha
Me disse na lata, isso não me interessa
Nem para tirar a uruca
A tua sogra não presta
Minha mulher me ligando
Preocupada atrás de informação
Estou caminhando no bosque
Com a sua mãezinha do meu coração...

Passarinho com uma asa só
Cachorro sem rabo ou um pano de chão
Estou perdendo meu domingo
Minha sogra não vale um miolo de pão
Chego em casa, pois já esta tarde
Depois do meu banho outra decepção
A “véia” esquisita fedendo a carniça
Roncando bem alto lá no meu colchão...

No morro ou no asfalto é partido alto
Pra versar e pra sambar
Na ponta do pé e no salto do sapato

A lua iluminou, iluminou, iluminou
E o terreiro clareou
Com fé sambista não pensa em glória e nem conquista
Faz desse momento coisa rara preciosa
Deus mulher e a natureza
Cantados em versos e prosa

Risca o chão e tira a dama
Quero ver quem vai quem fica
Quem falou é versador
Dono de uma rima rica

Partideiro que é bom só fala do que viveu
Da boemia da amizade
Ou do grande amor que não valeu

Casamento não é bom...
Isto é fato verdadeiro
Coisa ruim não se casou...
Nazaré morreu solteiro!

É só pegar pela história
Buscar na memória só pra recordar
Lembra-se de Adão e Eva
Foi por causa dela que acabou o lar
Coitado do pobre Adão que situação
Caiu no paraíso
Desde o começo dos tempos
O tal casamento já deu prejuízo...

Fui ao mundo animal
Pra saber se é igual e também tem exemplos
Na casa do joão de barro
Se a mulher pisa errado ela morre lá dentro
Aranha viúva negra
Faz do esposo presa não tem compaixão
E pobre do louva deus...
Que no amor se envolver e virou refeição...

No tempo da carochinha
Um padre sempre vinha para abençoar
Tinha madrinha e padrinho
Era tudo bonito com noiva e altar
Mas muita coisa mudou
Tudo modificou desde o antigamente
Para manter a união
A melhor solução são escovas de dente...

Segunda feira em Santo Amaro é certo, é claro
Que eu vou pra lá, a chama da vela me chama
Tem mais um samba pra gente mostrar
Na Terça meu bem me perdoa
Mas na Bela Vista não posso faltar
No Samba Nosso de Cada Dia é só alegria
Eu quero sambar

Quase todo dia esqueço da hora
Quando chego em casa é aquele alvoroço
A nega torce o nariz se irrita e diz
Que só lhe dou desgosto

Ela sabe que na Quarta-Feira
Samba de primeira é lá no Timaia
Encontro de grandes sambistas
Samba na risca, não fujo da raia
Na Quinta vou lá pro São Lucas
Refrescar minha cuca
Esquecer os clamores
Para apresentar meu samba
No grande Terreiro de Compositores...

Na Sexta eu fico maneiro
Mas meu desespero é te ouvir falar
Que passeio lá em casa
E os bares da vida é o meu doce lar
Então eu penso melhor
Não tem coisa pior que em casa ficar
Saio em busca de um amigo
Que beba comigo pro tempo passar...

No sábado tem Olaria
E Maria Cursi que nos contagia
Passo um pouquinho em cada
É mais uma jornada desse dia a dia
Domingo samba do Cafofo
Não tem alvoroço vou correndo pra lá
A turma do Luizinho
Bem no sapatinho bota pra quebrar...

Vejo uma luz ascender todos os dias
Que me conduz, na mais perfeita sintonia
O canto é o acalanto que alivia a dor
Até quem nunca ouviu, nunca sentiu
Também cantou

O canto traz a lucidez e a tristeza termina
E o povo consegue seguir sua sina
Aliviando a dor

Uma canção de ninar
Vai sempre embalando um ser inocente
Toda alegria virá
Quando a paz se encontrar
No dia a dia da gente

Sublime canção universal
Que tocará o mais rude coração
E essa canção
Atingirá o céu do senhor
Nosso mundo será
Um paraíso de amor

É já virou rotina
Mais uma bala perdida
O despreparo policial
A vida está por um fio
Em Minas, São Paulo ou no Rio
Chamam de morte acidental

É sempre a mesma noticia
Mas o laudo da perícia
Nunca diz quem apertou
O gatilho e matou

Nessa guerra de policia, traficantes e milícias
Quem padece é nossa gente
Em meio ao fogo cruzado morre mais um inocente

Chora agora e declama
Outro peito ardendo em chama
Sai da alma o lamento
E no mundo violento impera o capital

Com o amor em extinção
Sem Cristo no coração
Temo que o bem perca pro mal

Não adianta me dizer que vai me deixar
Se eu continuar levando a vida na orgia
Entenda pretinha!
O meu negócio é curtir a boemia
Com a viola a tocar
Cantando vou trazendo a alegria
Espanto a melancolia
Dos momentos que a vida nos dá
Agora quer chantagear minha cachola
Dizendo que vai embora
Se as coisas não mudar
Mas fique certa que não vou cair na sua
Pode ir de mala e cuia
Que a orgia é o meu lar

Pretinha! Não te concedo a razão
Não te falta carinho
Em nosso lar, não falta o pão
Eu vou à luta, te conservo no alinho
Te dei meu sobrenome, o bangalô
Pra passear um carrinho
Pretinha! Fiz um samba em teu louvor
Que eu canto no terreiro, nos botecos e esquinas
Com tudo isso, não consigo te agradar?
Pode ir de mala e cuia
Que a orgia é o meu lar

Tiêêê...
Um canto forte ecoou
Tiê... Oia lá Oxá
Silenciando os terreiros
Herança dos cativeiros
Seus Lara-iás
É o cântico dos orixás

Mãe de toda nação Imperiana
Nasceu para sonhar e cantar
De nobre dinastia africana
Tens o ritmo dos deuses ao bailar
No sorriso negro, o branco da paz
Serrinha de verdes matas vivaz...

Com o teu coração no esplendor
Teu canto é uma forma de prece
Teu ser se ascendendo qual a flor
O sonho teu feliz se enobrece
Doces recordações que fazem acreditar
Sublime é Deus que rege o teu cantar...

Eh! Morena eh! Morena
Abre o seu sorriso, morena
Pra me encantar

Oh! Batuqueiro
Firma o ponto nessa roda
Toca viola que a morena quer sambar
Meu coração fica bobo nessa hora
Até rola feito bola querendo carambolar
Quanto feitiço o meu peito contagia
Fiz poesia pra você se embalançar
Fico pensando no seu corpo noite e dia
Moreninha eu só queria com você me embolar

Deixe a porta encostada
Hoje eu vou chegar de madrugada
Ou talvez só com o raiar do dia
Que eu voltarei pra sua companhia
Vou para um botequim
Mas sei que se eu demorar vai esperar por mim

A porta encostada vou deixar
Pis sei que tão cedo
Tu não retornará
Pra mim o que mais importa
É vivermos com amor e harmonia
Não ligo em dividir você com a boemia
Vá para um samba tranqüilo
E me leve contigo em seu coração
Que eu ficarei te esperando
Em nosso barracão

Vá para um samba tranqüilo
E me leve contigo em seu coração
Não se esqueça que me prometeu Uma nova canção

Ela quer a vida dos jardins
Não sabe ser feliz na querida favela
Sonhando ela faz do nosso amor o fim
E a nossa vida poderia ser tão bela

Que vá então com Deus
Se tudo que ofereço, não lhe satisfaz
Convencer ficar eu já tentei
Mas implorar, implorar jamais

Não lhe aquece o coração meu violão
Não lhe enternece uma canção
Que fiz com emoção
Quer toda grandeza de um mar
Jamais terá
Por suas ondas de desejos
Tão infeliz vai naufragar

Da caneta ao papel
Da mente ao coração
No Terreiro de Compositores
Vou ecoar minha canção
Com sentimento de dor
Ou na euforia de um amor

E hoje, venho aqui cantar
Pois esse terreiro é meu lugar
Reduto de bambas
Que defendem o samba
Na mais pura expressão
Da canção popular

São Paulo e seus sambistas
Tem estórias pra contar
E sua garoa é testemunha ocular
Meu Terreiro Em cada samba, em cada inspiração
Vai fazendo história
E mantendo a tradição

Quando pego meu cavaco
Sinto falta da viola
Quando estou na minha tristeza
É ele que me consola

Minha vida é o meu samba
Em roda de bamba
Eu digo presente
Meu pagode não descamba
E meu cavaco não mente
É de madeira macia
E sua harmonia faz arrepiar
Quando pego meu cavaco
A dona tristeza não acha lugar...

Quando pego meu cavaco
Viola no saco não pode ficar
Entra no balaco Baco
Assanhado pra tocar
E vão chegando um a um
Só no ziriguidum
E no teleco teco
A cuíca, o pandeiro
O surdo maneiro
A timba e o reco...

Se seu pé está doente
A perna dormente
O joelho inchado
O corpo todo indolente
Querendo ficar sentado
Passo a mão no cavaquinho
E bem de mansinho começo a tocar
Todos seus males se espanta
Você se levanta
Começa a sambar...

Por um sorriso teu
Dou o mundo
A vida e os sonhos meus
Vou te fazer feliz eu sei
Mas não serás rainha
Até porque nunca fui rei
Mas se fores só minha
Escuta o que eu direi
Terás então
Um puro amor
Um coração merecedor
Tudo em nome do amor

Me faço canção de Jobim
Na mais rica harmonia pra te agradar
Lembrando Vinícius
Declamo um soneto pra eternizar
Assim, eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
E quando notares a força do amor
Que habita no olhar
Reflete nos meus
Vão de encontro aos teus
Invejam o luar
Verás que sempre irei te amar
Por toda minha vida